Quando orientamos dieta a nossos leitores, seja para perder peso ou normalizar sua glicemia, em caso de diabete ou de predisposição, além de sugerirmos a redução de alimentos altamente processados, também alertamos sobre o excesso de carboidratos provenientes dos açúcares, como os encontrados nos doces, massas, raízes (batata, por exemplo), leite, frutas e principalmente no suco de fruta (frutose).
Para entender melhor os motivos de tanta cautela com esses alimentos, vamos conhecer um pouco a natureza dos carboidratos, ou hidratos de carbono, que constituem a maior parte da nossa “dieta ocidental”, fornecendo cerca de metade das calorias que ingerimos nas condições normais.
O consumo abusivo de sucos de frutas e alimentos que contenham em sua composição o xarope de milho com alta concentração de frutose está diretamente associado ao aumento da incidência da síndrome metabólica e de suas principais consequências: a doença cardiovascular, o diabete e a obesidade.“
Eles são os nutrientes do trabalho muscular por excelência. Os principais carboidratos da nossa alimentação são os monossacarídios e os oligossacarídeos. Os monossacarídeos, ou açúcares simples, são moléculas simples, sendo os mais comuns a glicose (dextrose) e a frutose (levulose). Já os oligossacarídeos são açúcares compostos que, quando decompostos por uma reação química chamada hidrólise, fornecem de duas a dez unidades de monossacarídeos, incluindo-se nesse grupo os dissacarídeos (sacarose e lactose), os trissacarídeos, que não são relevantes nesta explicação, e também os polissacarídeos (amido e glicogênio), assim como as fibras celulose e hemicelulose, que não são digeridas por nossas enzimas digestivas.
Depois dessa breve parte teórica, vamos voltar ao nosso vilão. Estudos revelaram que os açúcares simples, os monossacarídeos, têm-se mostrado problemáticos para a saúde humana. O açúcar da cana-de-açúcar, tão popular no Brasil, cujo nome específico é sacarose, quando digerido, se transforma em glicose e frutose. Já está estabelecido que o excesso de glicose não é bom, mas o que alguns estudos estão demonstrando nos últimos anos é que o excesso de frutose é pior. A frutose é derivada do açúcar das frutas e do xarope de milho, que contém frutose concentrada. Entretanto, esse xarope com alta concentração de frutose e sabor muito doce, bastante utilizado pela indústria alimentícia, principalmente nos Estados Unidos, não é composto somente de frutose, mas de uma combinação quase em partes iguais de glicose e frutose.
Após a absorção desses açúcares pelo intestino, a frutose é metabolizada no fígado primeiro que a glicose. A partir desse momento, quando ocorre excesso de frutose, desenvolve-se uma situação metabólica anormal chamada de resistência à insulina.
Apesar de a inflamação induzida pela frutose ser demonstrada em vários estudos, efeitos protetores da frutose sobre a inflamação também são reportados em situações especiais.”
Agora, vamos entender o que é resistência à insulina, já mostramos em nosso blog sobre esse hormônio. O termo é empregado para definir uma situação na qual a insulina que circula no sangue não exerce sua atividade plena após ser secretada pelo pâncreas em resposta ao aumento de carboidratos no sangue. A importância desse hormônio – insulina – não é só para o controle das taxas de glicose no sangue, mas também por inúmeras outras funções no fígado, tecido gorduroso, rins e mesmo nos vasos sanguíneos. Quando a pessoa tem resistência à insulina, seu pâncreas produz esse hormônio, mas em excesso. O problema é que após o estímulo gerado pela glicose, a ação dessa insulina não é a ideal. Para corrigir essa resistência, o organismo acaba secretando maiores quantidades de insulina que, em níveis mais altos, consegue cumprir suas funções.
No entanto, algumas vezes, esse mecanismo pode não ser eficiente, e há um aumento na concentração da insulina e da glicose no sangue, o que pode gerar um estado de pré-diabetes ou até mesmo de diabetes. Da mesma forma, as alterações resultantes desse processo são responsáveis pela síndrome metabólica, sendo muito frequente a associação com diabetes tipo 2, obesidade, especialmente do tipo abdominal (visceral), hipertensão arterial, elevação dos triglicerídeos e com a redução do chamado “bom” colesterol, o HDL. Outras condições desfavoráveis são associadas a esse quadro, como a síndrome dos ovários policísticos.
A síndrome metabólica, conhecida anteriormente como síndrome X ou quarteto da morte, por associar quatro condições muito perigosas para a saúde – obesidade, hipertensão, diabete e aumento dos triglicerídeos – consiste num conjunto de alterações orgânicas resultantes de uma ação ineficiente do hormônio insulina, chamada resistência à insulina.
Estima-se que, nos Estados Unidos, a síndrome metabólica atinja cerca de 24% da população adulta. Acredita-se também que existam fatores genéticos de predisposição associados a uma mudança no estilo de vida marcada pelo sedentarismo e pelo excesso de ingestão calórica.
Como tudo tem uma razão de ser no corpo humano, nossas células têm receptores para vários hormônios. A insulina se liga ao seu receptor localizado na membrana da célula como uma chave à fechadura, ou seja, “abrindo a porta” para a passagem da glicose do sangue para dentro das células. Quando ocorre a resistência à insulina, o receptor passa a funcionar mal, dificultando a entrada da glicose do sangue na célula. Sendo assim, ela deixa o sangue mais lentamente e seu nível aumenta na corrente sanguínea.
A frutose mais concentrada no xarope de milho, nos sucos de fruta e no açúcar é capaz de gerar a mesma deficiência. De outra maneira, as frutas in natura, por trazerem a frutose combinada com fibras, minerais e vitaminas, não causam a mesma alteração, porque têm uma absorção intestinal mais lenta, assim como é mais lento o seu metabolismo no fígado. Portanto, nesse caso, a frutose não está em excesso e torna-se saudável. Falamos sobre isso neste post.
Estudos mostram que a ingestão excessiva de frutose tem impacto no desenvolvimento da síndrome metabólica, porém o mecanismo de ação da frutose no processo não está completamente elucidado. A produção de radicais livres de oxigênio, conhecido por estresse oxidativo, e a resposta inflamatória são sugeridas como de particular importância.
Exemplificando: a frutose estimula diretamente o processo inflamatório endotelial e reduz o nível de óxido nítrico (proteção para os vasos) no mesmo endotélio (endotélio é a membrana que reveste os vasos sanguíneos e liga-se ao colesterol na formação das placas de aterosclerose, principalmente diante de um processo inflamatório).
Um outro estudo demonstrou que uma alimentação com excesso de frutose administrada em ratos provocou o aumento de marcadores inflamatórios importantes, como as citocinas, o fator tumoral de necrose e os radicais livres de oxigênio nos glóbulos brancos circulantes.
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Agora continuando…
Também ficou claro que frutose colocada no estômago de roedores induz a adesão de glóbulos brancos ao endotélio vascular, dando início a um processo de aterosclerose. Outra conclusão importante foi que essa adesão pode ser revertida com a administração de uma substância antioxidante, no caso, o ácido alfalipoico.
Tudo isso sugere que a frutose deflagra diretamente a resposta inflamatória nos vasos estudados e que a resposta inflamatória é mediada pelo estresse oxidativo. É possível também que a ação pró-inflamatória da frutose seja resultado de outra via metabólica, como a ativação direta dos leucócitos pelo ácido úrico, que é um produto final do metabolismo da frutose. Apesar de a inflamação induzida pela frutose ser demonstrada em vários estudos, efeitos protetores da frutose sobre a inflamação também são reportados em situações especiais.
Além disso, tem-se associado a obesidade ao alto consumo de xarope de milho com elevado teor de frutose, um produto barato usado em inúmeros alimentos industrializados, como refrigerantes, doces e sopas.
Em resumo, o consumo do açúcar em pequenas quantidades e de poucas frutas in natura diariamente não parece estar relacionado com doenças. Ao contrário. No entanto, seu uso abusivo em sucos de frutas e alimentos, que contenham em sua composição o xarope de milho com alta concentração de frutose, está diretamente associado ao aumento da incidência da síndrome metabólica e de suas principais consequências, a doença cardiovascular, o diabete e a obesidade.
Referências:
www.drauziovarella.uol.com.br
VARELLA, Drauzio. Frutose: o doce vilão
TAUBES, Gary . Por que Engordamos: E o que Fazer Para Evitar. 5º edição.São Paulo: L&MP, 2014.
TAUBES, Gary. Açúcar: culpado ou inocente? 1º Edição. L&MP,2018
WOLF, Robb. The Paleo Solution: The Original Human Diet. Victory Belt Publishing 2010.
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