Uma objeção frequente às dietas de baixo carboidrato (low-carb) é a de que seriam perigosas para os rins. Normalmente, o que se escuta é uma variação da seguinte frase: “esta dieta da proteína vai acabar com os seus rins”. Bem, vamos analisar este problemas sob seus vários ângulos.
1) Qual a relação entre consumo de proteínas e doença renal?
Pacientes com insuficiência renal crônica têm dificuldade em excretar diversas substâncias, entre elas aquelas derivadas do metabolismo das proteínas. Assim, é fato que pacientes previamente portadores de insuficiência renal crônica não devem submeter-se a dietas hiperproteicas. Mas isso não diz NADA a respeito do consumo proteico de pessoas normais. Trata-se de uma falácia lógica. Se você está com uma perna quebrada, você não deve fazer uma caminhada longa. Isto não significa que se você fizer uma caminhada longa, você quebrará a perna. O que diz a ciência sobre o assunto? Vejamos:
Este interessante artigo vai ao âmago da questão. Eis alguns pontos importantes:
a) O aumento do consumo proteico é uma das estratégias de perda de peso, e obesidade é um fator de risco para doença renal.
b) O aumento do consumo proteico está associado com diminuição da pressão arterial, e pressão alta é um fator de risco para doença renal.
A filtração glomerular (uma medida do funcionamento renal) aumenta com o aumento do consumo de proteínas. Em pacientes com doença renal preexistente, o consumo de proteínas parece estar associado a uma queda progressiva da função renal. Já em pacientes com função renal normal, não foi encontrada nenhuma associação. Em estudos experimentais em animais, o consumo de grandes quantidades de proteínas está associado à hipertrofia (crescimento e aumento de função) dos rins. Esta hipertrofia é um processo normal e aparentemente benéfico, análogo ao que acontece quando o rim residual sofre hipertrofia após a retirada cirúrgica de um dos rins.
Os autores afirmam: “alegações de que uma dieta de alta proteína promove desidratação ou “força” adversamente o rim permanecem especulativas”. Os autores revisam e literatura e constatam que em inúmeros estudos de dietas hiperproteicas para perda de peso “não há relatos de diminuição da função renal induzida por proteínas mesmo em pacientes que, devido a hipertensão, obesidade e dislipidemia, teriam um risco maior de insuficiência renal”.
Citam ainda outros estudos prospectivos em pacientes saudáveis que não demonstram alterações adversas da função renal ou da excreção urinária de albumina (um marcador de dano renal).
Estudos em atletas e fisiculturistas que consomem doses de proteína 200% ou mais acima dos níveis tradicionalmente recomendados não apresentam incidência aumentada de doença renal.
Finalmente, estudos em modelos animais de ratos e cães alimentados com doses elevadíssimas de proteínas (de 50% a 60% das calorias) por longo prazo (anos) não identificaram doença renal, a despeito do aumento (já referido) da filtração glomerular (hipertrofia renal).
Outro estudo indica que pacientes obesos não sofrem piora da função renal com dieta hiperproteica. Mais outro estudo salienta que o consumo aumentado de proteínas por atletas não é deletério. Ainda mais outro estudo avaliou de forma prospectiva pacientes em dieta low-carb por 1 ano, e não encontrou nenhuma evidência de dano renal.
O nome deste próximo estudo já diz tudo: “Substituição de refeições com uma dieta enriquecida em proteínas não afeta de forma adversa a função renal, hepática ou a densidade óssea.” E, por falar em densidade óssea, não custa comentar que estudos como este e este indicam que uma dieta aumentada em proteínas não apenas não afeta negativamente, mas afeta positivamente a saúde dos ossos. Enfim, o medo da proteína resulta exclusivamente de uma falácia lógica, tão primária a ponto de ser infantil.
2) Quem disse que uma dieta de baixo carboidrato é necessariamente uma dieta hiperproteica?
Embora seja comum referir-se às dietas low-carb (como a dieta Atkins, por exemplo) como “dieta da proteína”, isto não é correto. Na verdade, as proteínas tendem a ser o macronutriente mais constante nas dietas, sendo que os carboidratos e as gorduras é que variam mais.
No trabalho fundamental sobre dietas, QUE TODOS DEVERIAM LER, fica evidente na tabela 2 que a proporção de proteínas não varia quase nada entre as dietas mais low-carb e mais low-fat. O que varia é apenas o resultado: a dieta Atkins é superior a todas as outras em perda de peso e em TODOS os fatores de risco cardiovascular. Mas isto não é novidade.
O grande Dr. Yudkin, a quem já me referi em outro post, já em 1970 publicava interessante artigo no qual deixava claro que a quantidade de proteína na dieta low-carb era praticamente igual à da dieta tradicional. Aliás, é um artigo que vale a pena ser lido. Já no segundo parágrafo, consta que a dieta de baixo carboidrato era a opção preferida para perda de peso entre os médicos britânicos. Como o mundo dá voltas, não?
3) Por que motivo a dieta com a qual evoluímos seria danosa a nossa saúde?
Eu sei que é um argumento circunstancial, mas, não obstante, trata-se de forte argumento. Você postularia que o capim é tóxico para os rins da vaca? Coalas evoluíram comendo folhas de eucalipto. Você proporia como provável a hipótese de que o eucalipto é nefrotóxico para os coalas?
Então por que os alimentos consumidos por nossa espécie há milhões e anos seriam tóxicos? A plausibilidade deve ser levada em conta. Sugiro a quem tiver interesse em aprofundar-se no assunto que leia este artigo sobre plausibilidade.
Em resumo: a dieta de baixo carboidrato e a dieta paleolítica não são dietas de alta proteína. Mas, mesmo que fossem, não há NADA na literatura científica que indique que isto pudesse prejudicar os rins de pessoas normais.
Qualquer um que já realizou uma dieta com alto teor de proteínas provavelmente ouviu este aviso: você pode perder peso, mas se arriscará a ter problemas nos rins.
A ideia é que processar grandes quantidades de proteínas sobrecarrega os rins, que filtram o sangue e removem resíduos. Porém, há poucas pesquisas sustentando essa afirmativa.
Num estudo publicado em “The International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism”, pesquisadores recrutaram fisiculturistas e outros atletas e examinaram sua função renal durante sete dias, enquanto eles seguiam dietas de alto e médio teor de proteínas. Pelos resultados, todos os indicadores da função renal permaneceram dentro do intervalo normal entre os atletas que consumiram grandes quantidades de proteína.
Num estudo muito maior, publicado em “The Annals of Internal Medicine”, pesquisadores examinaram o consumo de proteínas em 1.624 mulheres num período de 11 anos. Eles descobriram que as dietas de proteínas não causavam problemas em mulheres com funções renais normais. Porém, em mulheres com uma “leve insuficiência renal”, o consumo exagerado de proteínas acelerava o enfraquecimento dos rins.
Pesquisadores da Universidade de Connecticut chegaram a uma conclusão similar quando revisaram anos de pesquisas sobre o assunto, num relatório de 2005 publicado na revista “Nutrition & Metabolism”.
Para quem está pensando em iniciar uma dieta assim, exames físicos e de função renal podem revelar quaisquer problemas ocultos.
Conclusão: estudos mostram que, em adultos saudáveis, o consumo elevado de proteínas não coloca um excesso de pressão sobre os rins.
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Referências
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2033829
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3023677/?tool=pubmed
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22127335
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Fal%C3%A1cia
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br
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http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?doi=10.1001/jama.297.9.969
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http://jama.jamanetwork.com/data/Journals/JAMA/5118/joc70018f2.png
http://www.ajcn.org/content/23/7/948.long
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http://www.sciencebasedmedicine.org/index.php/plausibility-in-science-based-medicine/
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