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A falácia do espantalho

O termo é frequentemente utilizado em inglês: “straw man fallacy“, a falácia do espantalho.

O espantalho é representado por um manequim de palha, vestido com vestimentas antigas e um chapéu, que exibe alguma semelhança com um ser humano. Com uma dose de sorte, as aves podem confundir esse manequim com o próprio fazendeiro, resultando em proteção para a plantação.

O que é, então, a falácia do espantalho?

Da wikipédia:

“Falácia do homem de palha (também Falácia do espantalho) é um argumento em que a pessoa ignora a posição do adversário no debate e a substitui por uma versão distorcida, que representa de forma errada esta posição. A falácia existe quando a distorção é proposital, de forma a tornar o argumento mais facilmente refutável, ou quando é acidental, quando quem usa a falácia não entendeu o argumento que quer refutar.

Nesta falácia, a refutação é feita contra um argumento criado por quem está atacando o argumento original, e não é uma refutação deste argumento original. Para alguém que não esteja familiarizado com o argumento original, a refutação pode parecer válida, como refutação daquele argumento.”

Outra boa definição está no quadro abaixo:

O termo “dieta paleolítica” frequentemente se presta à falácia do espantalho. Do ponto de vista do marketing científico, esse termo é amplamente desfavorável. Ao ser caracterizado como a “dieta das cavernas” que prega a alimentação idêntica à dos nossos antepassados, ele se torna suscetível a críticas. Embora seja óbvio que o que está sendo alvo de críticas é uma mera representação distorcida, muitas pessoas não percebem esse fato.

Existem inúmeros exemplos que corroboram essa questão. Na matéria de capa da revista Época a algum tempo atrás, a respeito da dieta paleolítica, o artigo começa com a seguinte afirmação:

“Num primeiro momento, a reação é de risos, seguida de incredulidade. Não raro, seguem-se comentários sobre as loucuras que as pessoas fazem para emagrecer. Alguns ficam extremamente curiosos, outros se espantam com tamanha bobagem e não querem prosseguir a conversa.”

Por que tratar o assunto de maneira tão jocosa? A razão reside no fato de que as pessoas estão zombando não do argumento legítimo, mas de uma representação distorcida da dieta paleolítica. Nas palavras da revista: “(…) dieta paleolítica, ou dieta neandertal, ou, ainda, dieta dos homens da caverna”.

Colocado dessa forma, a situação realmente se torna caricata, o que oferece à matéria a oportunidade de adotar esse tom em relação ao tema. Como a Wikipedia menciona, essa abordagem pode ser intencional ou resultar de ignorância. Porém, o resultado permanece o mesmo – conferir ao conceito uma aura de ridicularidade para, então, desmantelá-lo facilmente.

Até mesmo autores acadêmicos respeitáveis, como Marlene Zuk (sobre a qual há uma extensa discursão aqui), cometem o equívoco (intencional ou não) de criar um espantalho para, em seguida, atacá-lo implacavelmente. No entanto, o que está sendo alvo de críticas é o boneco de palha, não a própria proposta em si.

Então, é preciso que fique claro o que queremos dizer com o termo “dieta paleolítica”.

O termo dieta paleolítica foi cunhado em um estudo acadêmico, publicado no New England Journal of Medicine em 1985 (N Engl J Med. 1985 Jan 31;312(5):283-9.), e tinha como objetivo caracterizar a dieta dos vários povos caçadores-coletores ainda existentes à época, nos quais as chamadas doenças da civilização (obesidade, síndrome metabólica, diabetes, doença cardiovascular, câncer e Alzheimer) eram virtualmente ausentes, mesmo controlando-se para a idade. Eis o cabeçalho do famoso estudo – circunspecto e sério, como qualquer coisa que consiga ser publicado em um periódico peer reviewed dessa categoria:

O estudo do New England não tratava de outra espécie (Homo neanderthalensis), apenas na nossa (Homo sapiens), portanto falar em “dieta dos neandertais” é duplamente ridículo. Tampouco de “homens das cavernas”, seja lá o que for isso. Tratava de seres humanos como nós, cuja cultura e modo de vida divergem dos nossos. Tratar essas pessoas como “homens das cavernas” é de um etnocentrismo constrangedor para o século 21. Lembra os romanos que, durante o reinado de seu Império, denominavam todos os demais povos de Europa de “bárbaros”.

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Como fotos e técnicas de marketing criam espantalhos

As fotos publicadas nas reportagens também caracterizam a falácia do espantalho. A revista Superinteressante publicou uma reportagem sobre dieta paleolítica (a reportagem não chega a ser ruim).

Mas, a despeito do texto equilibrado, o leitor depara-se com a seguinte foto de página inteira:

Uma imagem grotesca de alguém devorando um pedaço de carne enquanto se suja completamente, como se fosse um “homem das cavernas” – uma série de estereótipos, um insulto à inteligência do leitor – exemplifica a falácia do espantalho. Quem em sã consciência acreditaria que comer dessa maneira é saudável? Será que o New England Journal of Medicine endossou essa abordagem nos anos 80? É isso que os livros sérios sobre o tema advogam? Claro que não. Isso é, na verdade, a representação distorcida: substitui-se o conceito respeitável de aplicação dos princípios evolutivos à nutrição humana por uma caricatura bizarra, apenas para então ridicularizar e desmantelar.

Agora, compare essa imagem com a ilustração de uma dieta mediterrânea:

Qual das duas parece mais saudável?

Prezado leitor, isso não é ciência, isso é MARKETING – percebem??

Mais um exemplo, mais uma vez retirado da revista Superinteressante, porém dessa vez e sua versão portuguesa – cujo título já constitui um espantalho: “a dieta da caverna”:

A figura de um homem de aspecto aparvalhado, vestido como um personagem do Flintstones, diz bem mais a respeito dos jornalistas contemporâneos do que de nossos antepassados.

Quando pesquiso “dieta saudável” no Google imagens, por outro lado, o que vejo são variações disso:

Uma vez mais, a imagem inicial é meramente um espantalho. A designação “dieta paleolítica” em si muitas vezes cai na falácia do espantalho. Quando vista do ponto de vista de marketing científico, pode ser considerada um completo desastre. Ao rotulá-la como uma dieta das cavernas, uma imitação exata da alimentação dos nossos antepassados, entre outros clichês, a abordagem se torna vulnerável a críticas. Entretanto, é importante observar que o que está sendo criticado é apenas esse boneco de palha, mas muitas vezes as pessoas não percebem isso.

Nesse contexto, a discussão é reduzida à ridícula, permitindo à matéria tratar o tópico com essa abordagem. Como a Wikipedia aponta, essa atitude pode ser intencional ou até mesmo resultado de ignorância. Independentemente disso, o resultado é o mesmo – conferir ao conceito um aspecto cômico, tornando mais fácil desacreditá-lo.

Uma dieta paleolítica nem sempre envolve a ingestão de carne! Já foi discutido aqui sobre o povo Kitava, cuja alimentação é baseada em raízes selvagens, coco e peixe. Na verdade, como já foi mencionado, essa dieta é muito mais definida pelo que exclui – alimentos processados, açúcar, grãos, óleos refinados e, na versão original de Loren Cordain, laticínios e leguminosas.

Se não for exatamente IGUAL à alimentação paleolítica, não vale?

A versão caricatural da dieta paleolítica também supostamente seria igual à alimentação do Paleolítico. Isso permite duas críticas comuns:

  1. “É impossível comer exatamente como se comia no Paleolítico, uma vez que muitos dos animais já não existem mais, os vegetais cultivados são totalmente diferentes e os animais modernos são alimentados com ração.”
  2. “Nossos antepassados viviam até (insira seu número chutado favorito) anos de idade, então por que eu deveria emular o estilo de vida deles?”

No entanto, é importante questionar se esses argumentos são válidos – ressaltando, porém, que eles NÃO estão presentes nos artigos e livros sobre a dieta paleolítica, mas sim em versões distorcidas da mesma!

A primeira questão é um exemplo TÍPICO de espantalho, pois ninguém jamais afirmou que desejamos adotar uma dieta EXATAMENTE igual à de nossos antepassados. Isso nunca foi escrito por nenhum dos autores. Insisto: isso é criar uma falsa representação da dieta paleolítica para, em seguida, atacá-la. A realidade é que parte-se de uma estrutura baseada em critérios evolutivos para tentar adaptar alimentos modernos de forma a não se distanciar TANTO do que evoluímos para consumir (como é o caso da dieta ocidental tradicional).

O postulado evolutivo, por exemplo, parte da premissa de que a carne de ovelha, mesmo que seja de uma espécie domesticada e inexistente há 15 mil anos, é mais próxima da dieta para a qual evoluímos do que um cereal de café da manhã açucarado – embora este último não contenha colesterol, seja enriquecido com vitaminas e minerais (e seja uma bomba de açúcar e amido). Um é um alimento real, o outro é uma ração industrial que empobrece as dietas e enriquece as corporações.

O termo “The Paleo Diet” foi patenteado pelo Dr. Loren Cordain, que foi introduzido ao tema através da leitura do artigo de Boyd Eaton, mencionado acima. Cordain aderiu aos conceitos originais: se adaptarmos a dieta de nossos ancestrais usando alimentos modernos, lidaremos melhor com as doenças da civilização.

Aqueles que acompanham este blog há algum tempo sabem que eu sigo mais a abordagem de Mark Sisson, baseada em partes iguais de aplicação de princípios evolutivos para discutir nutrição, ciência e bom senso. Sisson usa o termo “Primal” em vez de “Paleo”, exatamente para se distanciar da abordagem Paleo que, como mencionei antes, é uma marca registrada de Loren Cordain. Sisson permite o consumo de laticínios fermentados integralmente, por exemplo, embora esses não fossem consumidos durante o Paleolítico. Essa permissão se dá porque esses produtos são low carb, saborosos, saciantes e a maior parte da ciência indica que eles são benéficos (para quem os tolera).

O argumento da longevidade não se sustenta por duas razões: primeiro, porque é um FATO que nas sociedades caçadoras-coletoras ainda existentes atualmente, os indivíduos que vivem mais tempo (sim, eles existem) não apresentam as patologias crônicas e degenerativas típicas das sociedades civilizadas. Segundo, as pessoas frequentemente confundem longevidade com a expectativa de vida média. Quando menciono que nossos antepassados tinham uma expectativa de vida média de 40 anos, não quero dizer que as pessoas morriam aos 40. Isso significa que 1/3 das crianças falecia ainda na infância (sem vacinas, sem antibióticos, sem assistência médica). Por exemplo: se, de um grupo de 10 pessoas, 5 atingirem os 100 anos e 5 morrerem antes de completar 1 ano, a expectativa de vida média será de 50 anos. Podemos dizer que essa população viveu até uma idade avançada e que sua expectativa de vida média é de 50 anos – ambas as afirmações seriam corretas.

A mensagem, então, é esta: ao ler críticas contundentes à dieta paleolítica, é importante analisar cuidadosamente o que está sendo criticado – a abordagem real ou uma caricatura distorcida. Fotos estranhas e expressões como “dieta das cavernas”, “neandertal” e outras semelhantes geralmente apontam para o segundo caso.

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Obrigado!

Referências (com adaptações):

 https://www.lowcarb-paleo.com.br/2015/01/a-falacia-do-espantalho.html

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