Ciência, Pseudociência e Mudanças de Paradigma: Uma Viagem pelo Progresso do Conhecimento
A ciência é uma das grandes conquistas da razão humana. Foi a ciência que nos deu a possibilidade de erradicar doenças, de ir à Lua, de nos comunicarmos instantaneamente pelo planeta e de prolongar nossa expectativa de vida. Mas a ciência é, também, um assunto complexo, cheio de nuances, dúvidas, caminhos tortuosos e até de transformações abruptas. É exatamente essa jornada que vamos explorar neste post, focando principalmente nas reflexões de Thomas S. Kuhn e nas dúvidas que ele levanta sobre o que é, de fato, o conhecimento científico.
Ciência e Pseudociência: Como Distinguir?
Ainda que a ciência tenha um enorme poder transformador, nem tudo que é chamado de “científico” é, na realidade, fruto de um método seguro ou de um modelo teórico consistente. A pseudociência é um dos caminhos pelos quais a ciência é desvirtuada ou usada para apoiar interesses pessoais ou ideológicos.
De acordo com o livro 50 ideias de filosofia que você precisa conhecer, um critério importante para distinguir ciência de pseudociência é a falseabilidade (Popper). Uma teoria científica deve ser capaz de se expor às condições nas quais ela seria refutada — ou seja, deve apresentar hipóteses que estão sujeitas a um teste. A pseudociência faz exatamente o oposto: evita se expor às circunstâncias que a desmentiriam, sendo vaga nas suas hipóteses ou recorrendo a adições ad hoc para se manter de pé, apesar das evidências contrárias.
Como Diferenciar o Verdadeiro do Falso?
O que separa a ciência legítima da pseudociência? Essa pergunta é mais relevante do que nunca em uma era de desinformação e teorias conspiratórias. Dupré discute o critério de falseabilidade, proposto pelo filósofo Karl Popper, como um dos pilares para distinguir ciência de pseudociência.
Falseabilidade: Uma teoria científica deve ser passível de ser testada e, potencialmente, refutada. Por exemplo, a afirmação “todos os cisnes são brancos” pode ser falseada ao encontrarmos um cisne negro. Já a astrologia, por fazer previsões vagas e não testáveis, escapa desse critério.
Pseudociências: Disfarçam-se de ciência, mas não seguem métodos rigorosos. Exemplos incluem homeopatia, criacionismo e teorias da conspiração sem evidências.
Porém, a linha nem sempre é clara. Algumas ideias inicialmente rejeitadas (como a deriva continental) mais tarde se provaram científicas. Isso nos leva à próxima questão: como a ciência evolui?
Thomas S. Kuhn e as Mudanças de Paradigma
Ainda que o modelo popperiano seja um bom ponto de partida para distinguir ciência de pseudociência, ele revela apenas parte do que é o desenvolvimento científico na prática. Foi Thomas S. Kuhn, autor de A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), quem propiciou uma visão inovadora: a ciência não é um mero acúmulo gradual de verdades, como se cada nova teoria acrescentasse um pouquinho de conhecimento às anteriores. Na realidade, às vezes temos que descartar tudo o que sabemos e dar um “salto” para um paradigma completamente diferentes (capítulo 34).
Um paradigma é um conjunto de hipóteses, métodos, teorias, problemas aceitos como relevantes, que formam a visão de mundo de uma comunidade científica. Dentro de um paradigma, os cientistas estão concentrados na resolução de problemas específicos — chamados de “quebra-cabeças”— que ele propõe. Quando muitos problemas se acumulam e o paradigma vigente já não é capaz de dar conta das dúvidas, entramos em um período de crise, que leva a uma revolução científica (pág. 182-183).
Um dos exemplos emblemáticos é a mudança do modelo geocêntrico de Ptolomeu para o modelo heliocêntrico de Copérnico, ou a transição da física newtoniana para a física relativista de Einstein — transformações que exigiram a substituição de um paradigma por outro, aumentando nossa compreensão, embora de forma disruptiva (pág. 183).
Relativismo e Incomensurabilidade
Com essa visão, Thomas S. Kuhn questionou a ideia de que o desenvolvimento científico é um mero acúmulo de verdades. Ele propõe que os paradigmas estão enraizados nas comunidades científicas, sendo compartilhados pelas mesmas, junto às suas crenças, métodos, dúvidas e até dificuldades (pág. 184). Quando um paradigma é abandonado, ele é substituído por um que é, muitas vezes, incomensuravelmente distinto — ou seja, ele se fundamenta em um conjunto de premissas que não é comparavelmente mensurado pelas anteriores (pág. 184).
Isso quer dizer que a mudança de paradigma não é fruto de um mero acúmulo de dúvidas ou de um modelo que se revela falso, mas de uma mudança na visão de mundo que os cientistas vêm compartilhando — é quase como se eles passassem a usar um par de óculos diferentes para considerar o que é um problema, um fenômeno, uma saída ou até o que é a mesma “realidade” que estão examinando (pág. 184-185).
Mudanças de Paradigma: Quando a Ciência Revoluciona Seus Próprios Fundamentos
Thomas Kuhn, em A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), propôs que a ciência não avança de forma linear, mas por meio de revoluções paradigmáticas.
Ciência normal: Os cientistas trabalham dentro de um paradigma aceito (ex.: física newtoniana).
Anomalias: Quando fatos inexplicáveis se acumulam (como órbitas planetárias irregulares), surgem crises.
Revolução científica: Um novo paradigma emerge (como a relatividade de Einstein), substituindo o antigo.
Exemplos históricos:
A transição do geocentrismo para o heliocentrismo.
A substituição da física clássica pela mecânica quântica.
Kuhn mostrou que a ciência não é apenas acumulação de fatos, mas também uma disputa de visões de mundo.
Por Que Isso Importa Hoje?
Ceticismo saudável: Entender a diferença entre ciência e pseudociência nos protege de charlatanismo.
Mudanças na ciência: Novos paradigmas podem desafiar nossas certezas, mas são essenciais para o progresso.
E você? Já se deparou com alguma pseudociência disfarçada de verdade? Ou acompanhou uma revolução científica em tempo real (como a descoberta do DNA ou a inteligência artificial)? Comente abaixo!
📖 Leitura recomendada: A Estrutura das Revoluções Científicas (Thomas Kuhn) e A Lógica da Pesquisa Científica (Karl Popper).
A Desunião da Ciência
Ainda que muitos considerem a ciência um empreendimento unificado, nas últimas décadas essa visão passou a ser questionada. A ciência é, na realidade, um conjunto de comunidades que nem sempre estão de acordo quanto às dúvidas, às metodologias e às interpretações que vêm sendo propostas (pág. 186-187). Apenas essa diversidade revela que o desenvolvimento do conhecimento é fruto tanto de negociações quanto de revoluções.
Consideração Final
Compreender o que é ciência — e o que é pseudociência — é um assunto crucial para que possamos tomar decisão informada na hora de avaliar um estudo, um tratamento médico ou até uma nova ideia que se diz inovadora. Thomas S. Kuhn revela que o caminho da ciência é cheio de curvas, que ele é fruto de crises, de transformações nas comunidades científicas, sendo, ao fim, um negócio coletivo, histórico e sujeito às circunstâncias. E para não sermos mais enganados, em outro post você poderá aprender a diferenciar MÁ ciência de BOA ciência na alimentação. Clique aqui e saiba mais!
Portanto, a ciência não é um mero acúmulo de verdades, é um constante reexame de hipóteses — um permanente debate que faz parte do desenvolvimento do saber.
Referências:
FLEURY, C. A. 50 ideias de filosofia que você precisa conhecer. D. Martins Fontes, 2010.
KUHN, Thomas S. (1962). A Estrutura das Revoluções Científicas.
POPPER, Karl (1963). Conjecturas e refutações.