Nos últimos dias, tenho recebido dos leitores links para determinados sites para opiniões de determinados profissionais que têm me exasperado.
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E eu costumo dizer às pessoas que estes são sites que expressam apenas opiniões, e que dos profissionais eu espero referências bibliográficas de artigos indexados peer reviewed. Mas, hoje eu estava pensando, muitos de vocês não têm ligação com o meio acadêmico ou com ciências da saúde, e talvez nem façam ideia do que estou falando. Então, acho que está na hora de explicar como isso funciona. Então, vamos por partes.
1) O que é “peer review”? Este termo, em uma tradução livre, significa “revisão pelos pares”. Funciona assim. Quando um jornalista escreve uma matéria, ou quando eu escrevo aqui no blog, podemos escrever o que quisermos. Literalmente, o blog é meu e eu escrevo o que eu quiser. Ninguém me controla, ninguém me supervisiona, ninguém passa um pente fino para ver se o que estou dizendo tem algum fundamento. Mas na literatura científica não é assim. O problema é: em áreas muito técnicas, quem teria competência para julgar se um artigo tem qualidade científica, ou se é um monte de bobagens? Somente alguém com as mesmas qualificações, somente um dos PARES do autor. Artigos de físicos nucleares precisam ser escrutinados por físicos nucleares. Artigos de pesquisadores em câncer precisam ser criticados por pesquisadores em câncer.
Se eu escrever um artigo e quiser publicá-lo em um periódico científico, ele passará pelo crivo do peer review, isto é, o artigo será enviado para 2 ou 3 especialistas reconhecidos naquela área específica do conhecimento, de forma anônima (o nome dos autores não é revelado), que irão checar cada pedacinho e ver se ali não há bobagens, erros e incongruências. Normalmente os revisores “destroem” o artigo, que volta novamente aos autores para que se façam as várias correções, e o processo pode repetir-se várias vezes até que o artigo seja considerado apto para publicação, ou então seja simplesmente rejeitado. Quando se fala em artigo científico, é a isso que estamos nos referindo: um artigo publicado em periódico científico peer reviewed.
- Pontos importante:
- livro não é peer reviewed;
- artigos de jornal e revista não são peer reviewed;
- postagens de blog não são peer reviewed;
- textos em sites não são peer reviewed;
- palestras no youtube não são peer reviewed.
Por que isso é importante? porque o papel aceita qualquer coisa.
Pesquisa SÉRIA passa pelo crivo do peer review. Assim, opiniões de um determinado autor de livros ou de um determinado blog famoso podem não passar disso – opiniões – e isso não é o mesmo que um artigo científico peer reviwed (sabemos o tipo de coisa que o papel aceita). E tem mais:
Se você disser que o bicarbonato de sódio é um tratamento eficaz contra o câncer em humanos, trata-se de uma alegação absolutamente extraordinária. Afinal, aqueles de nós que realmente lidam com essa doença todos os dias, como é o meu caso, sabem que há muito pouco a fazer em doença avançada. Então, se você disser que o bicarbonato de sódio é um tratamento eficaz contra o câncer em humanos, não basta embasar essa afirmação, onde incontáveis alegações são feitas sem nenhuma referência bibliográfica. Não.
Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias: ensaios clínicos randomizados, com centenas de pacientes, e gente morrendo em um braço do estudo e se curando no outro.
Por fim, percebam que eu falo em referências bibliográficas de artigos indexados peer reviewed. O que são artigos indexados? São artigos de periódicos científicos cadastrados no PubMed, a biblioteca de ciências da saúde dos EUA. Ou seja, citar artigos da Revista Brasileira de Tratamentos Bizarros também não basta. O periódico científico deve estar listado no PubMed, que pode ser acessado gratuitamente em:
Neste blog, as afirmações são sempre baseadas em referências bibliográficas de artigos indexados peer reviewed, cujos links sempre constam nas postagens, bastando clicar. Ou, alternativamente, há links para textos de outros autores que, por sua vez, contém as referências bibliográficas. Nas ocasiões em que as afirmações são especulativas, isto está CLARAMENTE dito no texto.
Então, quando algum contato seu do Facebook, WhatsApp, nutricionista, etc, alegar, por exemplo, que uma dieta de baixo carboidrato fará você perder apenas água e músculo, ao invés de gordura, faça a seguinte pergunta: “qual a referência bibliográfica?” Quando então a pessoa lhe mandar um xerox de caderno ou um link para uma página da internet, sorria e responda: “Não, não é isso que eu pedi. Quero referências bibliográficas de artigos indexados peer reviewed”.
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Você sabe como? Você sabia que pessoas que seguem a dieta Paleo não se preocupam em contar calorias? E que elas não comem de 3 em 3 horas? Elas só comem quando estão com fome, o que faz ser impossível abandonar a dieta.
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Referências: